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Vacina autógena de mastite: vale a pena o investimento?

  • Foto do escritor: Inata
    Inata
  • 30 de jun.
  • 5 min de leitura

Custos com perdas de produção de leite, medicamentos, mão de obra, descarte de leite com resíduo de antibióticos e risco de descarte precoce do animal são impactos negativos bastante conhecidos e sentidos no bolso pelo produtor de leite quando o assunto é a mastite. Mesmo com todos os cuidados de manejo, conforto e ambiência ainda ocorrem casos de mastite. Assim, alternativas de controle e prevenção dessa doença são essenciais para minimizar essas perdas. Como exemplo, pode-se citar o uso da vacina autógena contendo os principais agentes causadores de mastite. Mas afinal de contas, vale a pena investir nessa ferramenta de controle?


O texto a seguir relata o caso de uma fazenda leiteira que enfrentava problemas com  mastite e, por conseguinte, penalização pelo laticínio devido à elevada contagem de células somáticas (CCS) de tanque, o que levou a decidir por investir na vacina autógena. Trata-se de uma propriedade localizada na região do Triângulo Mineiro, com um rebanho estável de 75 vacas leiteiras mestiças manejadas em semiconfinamento, ordenhadas duas vezes ao dia com produção média diária de 27 litros de leite/vaca.


O processo de produção da vacina autógena de mastite iniciou-se em novembro de 2021 por meio da coleta de amostras de leite de vacas com mastite clínica e subclínica para identificação dos patógenos mais prevalentes no rebanho. As amostras de leite foram encaminhadas ao laboratório para a realização da cultura microbiológica. Como resultado, foram identificadas cepas de Corynebacterium bovis, Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Staphylococcus chromogenes, Streptococcus dysgalactiae e Streptococcus uberis, as quais foram utilizadas na fabricação da vacina. Em janeiro de 2022 iniciou-se o protocolo vacinal massal, no qual todas as vacas em lactação, vacas secas e novilhas acima dos seis meses de gestação receberam a primeira dose da vacina com reforço 30 dias após a primeira aplicação. Os demais reforços vacinais ocorreram em intervalos de quatro meses.


O laticínio captador do leite da fazenda realizou duas coletas mensais para análise de CCS do tanque e o resultado foi expresso pela média desses dois valores, e descritos nas notas fiscais (Tabela 1). Os dados foram coletados entre os anos de 2020 e 2023, sendo divididos em dois períodos: antes da vacinação (junho de 2020 e 2021) e após a vacinação (2022 e 2023).


CCS (*1000 células/mL de leite)

Valor da bonificação

> 100

R$ 0,10

100 – 200

R$ 0,08

200 – 300

R$ 0,06

300 – 400

R$ 0,04

400 – 500

R$ 0,00

> 500

Penalização

Tabela 1. Valores de bonificação por CCS praticados pelo laticínio no período do estudo.


O gráfico abaixo ilustra os valores mensais de CCS de tanque coletados durante o período do estudo, sendo que as linhas azuis representam o período antes da vacinação e as linhas verdes após a vacinação. Em 2020, a média de CCS de tanque da fazenda foi de 464, em 2021 foi de 489, em 2022 foi de 387 e em 2023 de 390 mil células/mL.


Gráfico 1. Valores mensais de CCS de tanque do rebanho estudado nos períodos antes e após a vacinação autógena.


É importante ressaltar que o rebanho em questão enfrentou alguns desafios que impactaram diretamente na qualidade do leite, como por exemplo os animais eram criados em semiconfinamento com acúmulo de barro no período chuvoso, problemas de sobreordenha com consequente alto número de animais com hiperqueratose que é um fator de risco para a mastite, além da mão de obra de baixa qualificação e alto turnover. Ainda assim, foi possível verificar que houve uma redução de 100.000 células na média de CCS de tanque de 2021 em relação a 2022 e que se manteve em 2023, configurando um cenário favorável ao uso da vacina autógena.


A CCS de tanque é um parâmetro importante que reflete a saúde da glândula mamária do rebanho leiteiro. Uma vaca em lactação com CCS acima de 200 mil apresenta uma queda estimada de 6% na produção de leite e à medida que a CCS se eleva essa queda torna-se ainda mais acentuada (Laboratory..., 2017). Além da melhoria na CCS de tanque do rebanho estudado, indicativo de mais vacas sadias, tem-se outras vantagens adicionais como menor perda de produção de leite acarretada pela mastite subclínica e menor transmissão de patógenos entre animais doentes e sadios no rebanho.


Com a vacinação do rebanho e a diminuição da CCS, a fazenda passou a ser contemplada financeiramente pelo resultado de seu investimento na melhoria da saúde animal. A bonificação por CCS no período antes da vacina foi de R$ 6.994,04, correspondendo a quatro dos 19 meses avaliados e que representou 5,61% do total das bonificações recebidas pela fazenda. Já no período após a implementação da vacina autógena, o valor recebido de bonificação por CCS foi de R$ 31.962,47 correspondendo a 16 dos 23 meses avaliados e que representou 37,11% do total das bonificações recebidas pela fazenda (Tabela 2).


 

Período

Parâmetro

Antes da vacinação

Depois da vacinação

Total de meses avaliados

19

23

Valor médio por litro de leite (R$/L)*

1,7237

2,0496

Valor total médio recebido/mês (R$)**

98.006,08

108.310,35

Total recebido de bonificação por CCS (R$)

6.994,04

31.962,47

Bonificação por CCS/Total de Bonificações*** (%)

Total de meses com bonificação recebida por CCS (%)

5,61

4

37,11

16

*Valor bruto desconsiderando a inflação no período

** Leite + todas as bonificações + complemento de preço

***Incluindo CPP, CCS, gordura, proteína


Tabela 2. Análise descritiva dos resultados obtidos nos períodos antes e após a vacinação autógena de mastite no rebanho estudado.


Na comparação entre os períodos antes e após a vacina, a fazenda obteve um ganho de R$ 24.968,43 de bonificação por CCS. Já o investimento realizado na aquisição da vacina autógena foi de R$ 15.600,00, uma diferença de R$ 9.368,43 que justificaria, do ponto de vista financeiro, o investimento na utilização da vacina autógena para minimizar os prejuízos causados pela mastite subclínica.


O uso da vacina autógena no rebanho estudado contribuiu para a redução da CCS de tanque e, consequentemente, aumento da bonificação por CCS paga pelo laticínio. A fazenda também obteve vantagens em relação à produção de leite, pois animais sadios produzem mais, embora este fator não tenha sido avaliado nesse estudo. Leite de qualidade é um diferencial com vantagem competitiva no mercado, para que o produtor possa negociar melhor o preço do seu produto e para os laticínios garantirem o padrão de qualidade dos derivados lácteos. Menor CCS de tanque, mais animais sadios, menor perda de leite e mais dinheiro no bolso do produtor. Ficou interessado e quer saber mais sobre a vacina autógena de mastite? Entre em contato com um de nossos consultores.


Autores:


Águida Garreth Ferraz Rocha

Ana Cláudia Fagundes Faria

Carla Cristian Campos

Ricarda Maria dos Santos



Referências Bibliográficas:


  • Laboratory Handbook on Bovine Mastitis. [New Prague]: Madison National Mastitis Council, 2017, 3ª ed., 148p.

 
 
 

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