Como o manejo de ordenha pode influenciar a ocorrência de mastite em vacas leiteiras?
- Carla Cristian Campos

- 5 de set.
- 5 min de leitura
A mastite é a principal doença que acomete os rebanhos leiteiros mundialmente e o fato de sua origem ser multifatorial torna ainda mais difícil o controle dessa enfermidade. Características como raça, nível de produção, fase da lactação, nutrição, clima, o ambiente de criação das vacas, entre tantas outras podem afetar, direta ou indiretamente, a ocorrência de mastite. O texto a seguir abordará a forma com que as vacas devem manejadas durante a ordenha e a importância que cada etapa desse processo tem para que os casos de mastite sejam minimizados.
A ordenha começa pela condução dos animais até a sala de espera, que deve ser feita com calma e tranquilidade para que a ocitocina, hormônio responsável pela ejeção do leite, seja liberada adequadamente. Vacas manejadas com agressividade sofrem estresse e liberam adrenalina ao invés de ocitocina, o que prejudica a ejeção do leite.
Ao chegarem na sala de ordenha, a preparação das vacas começa pelo teste da caneca telada ou de fundo escuro para retirada dos primeiros jatos de leite. O teste deve ser feito em todos os tetos de todas as vacas a cada ordenha. Esse primeiro contato da mão do ordenhador no teto da vaca serve como estímulo para a descida do leite e para detecção da mastite clínica, pelas alterações visuais do leite. Vale ressaltar que o uso de luvas pelos ordenhadores é um fator crucial para higiene na obtenção do leite e a troca deve ser feita sempre que as luvas estiverem sujas.
O tempo ideal entre esse primeiro contato e o acoplamento das teteiras deve ser de 60 a 90 segundos, que corresponde ao tempo de chegada da ocitocina nos receptores presentes nos alvéolos da glândula mamária, promovendo sua contração e ejeção do leite. Quando o tempo entre o estímulo e o acoplamento das teteiras é menor do que o tempo de ação da ocitocina, ocorre primeiramente a liberação do leite acumulado na cisterna do teto, seguida por uma interrupção temporária da liberação do leite, a qual só será retomada quando a ocitocina chegar na glândula mamária. Esse é um reflexo da rapidez no processo chamado de ordenha bimodal, a qual consiste na redução ou ausência do fluxo de leite no início da ordenha. Esse tempo também não deve exceder 3 minutos, para que o tempo de ação da ocitocina seja bem aproveitado, pois após esse tempo sua concentração no sangue cai pela metade. Nem rápido demais, nem lento demais!

No intervalo entre o primeiro contato e o acoplamento da máquina devem ser realizadas a limpeza, a desinfecção (pré-dipping) e a secagem dos tetos. A limpeza deve contemplar não apenas o corpo do teto (comprimento), mas também a base (úbere) e a ponta (esfíncter), pois a abertura do esfíncter para a saída do leite também abre portas para as bactérias adentrarem à glândula mamária. Para que a desinfecção seja eficiente é necessário que o produto seja aplicado em tetos limpos e permaneça por pelo menos 30 segundos. O pré-dipping previne infecções causadas pelas bactérias de origem ambiental, as quais são encontradas no ambiente onde as vacas permanecem no intervalo entre as ordenhas. Se as vacas estão chegando muito sujas na ordenha, a higiene do ambiente onde elas permanecem deve ser avaliada. A lavagem dos tetos com água corrente não é recomendada. Já a secagem deve ser feita utilizando papel toalha descartável (uma folha por teto ou quantas forem necessárias para deixar os tetos bem secos) ou toalhas reutilizáveis previamente lavadas e desinfectadas. O segredo é ordenhar tetos limpos e secos, para evitar a ocorrência de mastite e a contaminação do leite!

Durante a ordenha, é comum que os equipamentos como copos de dipping e conjuntos de teteiras fiquem sujos, fazendo com que a limpeza frequente desses e de outros objetos seja necessária. É importante se atentar ao funcionamento da máquina, observar se há deslizamento de teteiras, que pode indicar um nível baixo de vácuo, assim como o estrangulamento dos tetos, que pode ocorrer quando o nível de vácuo estiver elevado. Esses sinais são indicativos da necessidade de regulação do nível de vácuo da máquina de ordenha. Além disso, deve-se evitar tanto a sobreordenha quanto a subordenha, ou seja, não devemos ordenhar demais e nem de menos.
A sobreordenha consiste em manter as teteiras acopladas ao animal sem que haja fluxo de leite. Máquinas que possuem o sistema automático de extração ejetam as teteiras assim que o fluxo cessa, evitando este problema. Em ordenhas de extração manual, é importante verificar o fluxo através do copo coletor para que as teteiras sejam retiradas no momento certo. Uma das consequências da sobreordenha é a hiperqueratose, uma resposta fisiológica do organismo do animal ao estímulo da máquina de ordenha, causando um espessamento da pele da ponta do teto pela deposição de queratina nessa região. Nos casos mais graves, essas lesões em formato de anel ou flor na ponta do teto podem levar a dificuldades de ejeção do leite e de limpeza do teto, além de aumentar cerca de 25 a 30% o risco de mastite, pois esfíncter perde sua capacidade de contração e fechamento.
Já a subordenha ocorre quando a máquina é retirada dos tetos antes que a ação da ocitocina termine, fazendo com que haja um maior acúmulo de leite residual. Em caso de invasão da glândula mamária pelas bactérias patogênicas, esse leite servirá como alimento para que essas bactérias cresçam e se multipliquem ali, desenvolvendo um quadro de mastite.
Quando o fluxo de leite cessa e as teteiras são desacopladas, a desinfecção dos tetos após a ordenha (pós-dipping) deve ser realizada imediatamente. Recomenda-se que o produto seja aplicado em todo o comprimento do teto e que possua boa aderência para garantir sua ação. Essa desinfecção previne as infecções causadas pelas bactérias contagiosas, as quais circulam na sala de ordenha por meio dos equipamentos e fômites, mãos dos ordenhadores, toalhas e moscas.

O funcionamento da máquina de ordenha impacta direta e significativamente na ocorrência de mastite em vacas leiteiras. Máquinas mal calibradas, teteiras com rachaduras que escondem bactérias, flutuações no nível de vácuo ou entrada de ar, entre outras falhas podem favorecer a ocorrência de lesão nos tetos e, consequentemente, de mastite. As manutenções periódicas são essenciais para que a máquina funcione de forma adequada, com impacto direto na qualidade do leite. Como exemplo, surtos de mastite causadas por Streptococcus agalactiae, uma bactéria altamente contagiosa, pode ocorrer quando há entrada de leite na tubulação de vácuo da ordenha e assim esta se dissemina por todo o sistema, fazendo com que vários animais apresentem mastite ao mesmo tempo.
Sabe-se que as vacas infectadas excretam bactérias no leite, as quais contaminam o equipamento de ordenha e por conseguinte outros animais. Uma das formas de reduzir a exposição dos tetos aos patógenos causadores de mastite é o estabelecimento da linha de ordenha na fazenda, a qual preconiza que os animais saudáveis sejam ordenhados no início da ordenha e os doentes no final.
O manejo de ordenha pode parecer simples, mas envolve diversos processos, cada um com suas particularidades e que necessitam de muita atenção e cuidado por parte dos ordenhadores para que a produção de leite de qualidade seja garantida. O ponto principal se resume em reduzir a exposição dos tetos aos patógenos e assim, reduzir a ocorrência de mastite no rebanho. Para isso, é necessário investir tempo e dinheiro não somente nas manutenções periódicas do equipamento de ordenha, mas principalmente na capacitação dos colaboradores. É necessário que os ordenhadores aprendam a execução de cada etapa, mas principalmente entendam a importância de cada uma dessas ações, para trabalharem de forma consciente e eficiente. O time de consultores da Inata biológicos é expert quando o assunto é o manejo de ordenha e controle da mastite e está à disposição para ajudar você, produtor de leite!
Autora:
Carla Campos | Coordenadora técnica Brasil



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