O que 2024 revelou sobre lesões respiratórias em suínos de abate: agentes etiológicos e achados histopatológicos
- Karina Sonalio

- há 3 minutos
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As doenças respiratórias seguem entre os principais limitadores do desempenho na suinocultura moderna, tanto por seu impacto direto na fisiologia dos animais quanto pelos efeitos econômicos associados às perdas produtivas. Lesões de consolidação pulmonar, pleurites e pleurisia não apenas reduzem o ganho de peso diário, como também elevam os custos de produção. De acordo com a literatura, para cada 10% de tecido pulmonar consolidado, as perdas de desempenho podem alcançar até 37,4 g/dia, e quadros com altos índices de pleurisia estão associados a uma redução de 5,33% no retorno sobre o investimento (MAES et al., 2023; MALCHER et al., 2024). Além dos prejuízos diretos, chama atenção a natureza multifatorial das lesões pulmonares observadas ao abate: em 68% dos casos, há indícios histopatológicos de participação de mais de um agente infeccioso, o que reforça o papel das coinfecções na gravidade do quadro (DE CONTI et al., 2021).
Com base nisso, conduzimos um levantamento abrangente em frigoríficos de diferentes regiões do Brasil ao longo de 2024, com o objetivo de caracterizar as lesões histológicas encontradas em pulmões de suínos ao abate e identificar os principais agentes etiológicos envolvidos, com ênfase nas coinfecções.
Materiais e métodos
Foram consideradas 75 avaliações ao abate, realizadas em sete estados brasileiros (Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e São Paulo) ao longo de 2024. A distribuição regional das avaliações reflete importantes polos de produção: 41,33% no Sul (Santa Catarina e Paraná), 34,67% no Sudeste (Espírito Santo, São Paulo e Minas Gerais) e 24% no Centro-Oeste (Goiás e Mato Grosso). Em cada avaliação, coletaram-se pulmões resfriados e fragmentos fixados em formol, posteriormente enviados ao laboratório da INATA Biológicos (Uberlândia, MG). No total, 668 pulmões foram recebidos e submetidos à avaliação histopatológica padronizada, seguindo o mesmo procedimento descrito por De Conti et al. (2021). Paralelamente, realizaram-se isolamentos bacterianos, visando a identificação de patógenos frequentemente associados às lesões ao abate, como Pasteurella (P.) multocida, Actinobacillus (A.) pleuropneumoniae e A. suis, com metodologias de cultivo específicas para cada agente.
Resultados
Os achados evidenciam a extensão do desafio respiratório na suinocultura brasileira. Apenas 3,76% dos pulmões analisados (25/668) não apresentaram lesões primárias ou indícios de envolvimento bacteriano secundário. Em contrapartida, 46,1% (308/668) apresentaram lesões sugestivas de afecção por Mycoplasma hyopneumoniae (MHY) e 42,1% (281/668) mostraram padrão compatível com Influenza A vírus (IAV). A coinfecção com esses dois agentes foi frequente, ocorrendo em 23,65% dos pulmões (158/668), reforçando a sinergia patogênica entre esses agentes e seu envolvimento no Complexo de Doenças Respiratórias Suínas (CDRS).

No que diz respeito às lesões bacterianas, 31,73% dos pulmões (212/668) apresentaram broncopneumonia bacteriana, sendo que os maiores percentuais dessa lesão foram associados a infecções únicas por MHY (10,78%) e por IAV (10,48%). A coinfecção IAV + MHY foi identificada em 6,28% dos casos com broncopneumonia, enquanto pulmões sem lesões primárias compatíveis com MHY ou IAV exibiram broncopneumonia em 4,19% dos casos. Esse padrão é coerente com o entendimento fisiopatológico de que tanto IAV quanto MHY prejudicam os mecanismos de defesa mucociliar e a integridade epitelial, facilitando a colonização bacteriana, principalmente por agentes secundários, e a progressão de quadros de pneumonia.
Outra lesão de destaque foi a pleuropneumonia fibrinonecrótica, observada em 18,42% dos casos. Ao contrário do que se vê na broncopneumonia, a pleuropneumonia fibrinonecrótica apareceu com maior frequência em pulmões que não apresentavam lesões primárias por MHY ou IAV (14,97%), evidenciando seu papel como lesão primária ao abate — um achado que vai de encontro com a patogenia de A. pleuropneumoniae. A pleurite, por sua vez, foi identificada em 20,81% dos pulmões, e em 12,57% dos casos (84/668) não havia associação com lesões primárias compatíveis com IAV ou MHY.
Complementando a leitura histológica, os isolamentos bacterianos por avaliação sustentam a relevância de determinantes bacterianos clássicos do CDRS. Em 66,67% das avaliações (50/75) houve isolamento de P. multocida; em 20,0% (15/75), isolou-se A. pleuropneumoniae; e em 6,67% (5/75), A. suis. Sugerindo que P. multocida mantém papel dominante em quadros de pneumonia e pleurites associadas, frequentemente como agente secundário que exacerba lesões preexistentes; por outro lado, A. pleuropneumoniae comporta-se como patógeno primário devido à capacidade de induzir pleuropneumonia fibrinonecrótica, enquanto A. suis apareceu como agente oportunista.
Os dados convergem para um quadro no qual infecções únicas e coinfecções moldam a expressão das lesões pulmonares ao abate. A elevada frequência de padrões compatíveis com MHY e IAV, associada às taxas relevantes de broncopneumonia e pleurite, ajuda a explicar a magnitude das perdas produtivas relatadas na literatura (MAES et al., 2023). Do ponto de vista de saúde de rebanho, o achado de que apenas 3,76% dos pulmões estavam livres de lesões primárias e envolvimento bacteriano secundário reforça que as granjas convivem com um desafio respiratório constante.
Os resultados apresentados acima,evidenciam que infecções únicas e coinfecções desempenham papel relevante na etiologia das lesões pulmonares ao abate, com destaque para a frequência de padrões compatíveis com M. hyopneumoniae e Influenza A vírus, a alta taxa de broncopneumonia bacteriana e a expressiva presença de pleurite e pleuropneumonia fibrinonecrótica. Em paralelo, os isolamentos de P. multocida, A. pleuropneumoniae e A. suis corroboram o caráter multifatorial do Complexo de Doenças Respiratórias Suínas no país.
Diante desse cenário, programas de controle bem-sucedidos são aqueles que se apoiam em diagnóstico qualificado e em ações integradas de biosseguridade, manejo e imunização. Ainda, as vacinas autógenas agregam valor justamente por permitir que a resposta imune seja direcionada para os agentes e cepas que efetivamente circulam no rebanho.
Por isso, se sua granja enfrenta desafios respiratórios persistentes, sazonais ou de etiologia múltipla, conte com a INATA para apoiar desde a coleta e a leitura laboratorial até o desenho de uma solução vacinal autógena sob medida. Em um contexto no qual cada grama de ganho faz diferença, personalizar o controle é mais do que uma tendência: é uma necessidade técnica e econômica.
Este estudo aborda as lesões respiratórias em suínos de abate observadas em frigoríficos brasileiros em 2024, destacando agentes etiológicos e coinfecções.
Referências:
De Conti, E.R. et al. Agents of pneumonia in slaughtered pigs in southern Brazil. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 41, e06669, 2021. DOI: 10.1590/1678-5150-PVB-6669.
Maes, D. et al. Review on the methodology to assess respiratory tract lesions in pigs and their production impact. Veterinary Research, v. 54, n. 8, 2023. DOI: 10.1186/s13567-023-01136-2.
Malcher, C.S. et al. Health-economic impact attributable to occurrence of pleurisy and pneumonia lesions in finishing pigs. Veterinary Sciences, v. 11, n. 12, p. 668, 2024. DOI: 10.3390/vetsci11120668.
Texto adaptado de:
Montes et al., 2025. Pneumonia ao abate no Brasil: agentes causadores, lesões histológicas e suas associações. In: 21º. Congresso Brasileiro de Veterinários Especialistas em Suínos (ABRAVES). Anais do Congresso ABRAVES, Belo Horizonte, MG, 2025.



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