DIVERSIDADE GENÉTICA A NÍVEL DE NUCLEOTÍDEOS E AMINOÁCIDOS DE SENECAVÍRUS A ISOLADOS DE CASOS CLÍNICOS BRASILEIROS
- Julia Montes
- 8 de ago.
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Atualizado: 5 de set.
Com a intensificação das ações do Programa Nacional de Vigilância para a Erradicação da Febre Aftosa e o consequente aumento nas notificações de doenças vesiculares, o Senecavírus A (SVA) voltou a chamar atenção no cenário sanitário da suinocultura brasileira. Diante do crescimento de casos e do desafio do diagnóstico diferencial com doenças de alto impacto, como a febre aftosa, a INATA conduziu um estudo voltado à avaliação da diversidade genética de isolados clínicos de SVA no Brasil. Os resultados foram apresentados no Simpósio Internacional de Suinocultura, em Porto Alegre (SINSUI 2025). (MONTES et al., SINSUI 2025)
O estudo comparou sequências genômicas de amostras de SVA obtidas em 2019 e 2024, oriundas de surtos clínicos confirmados em suínos nos estados do Paraná e Minas Gerais. As amostras foram analisadas por RT-nested-PCR, com foco nos genes estruturais VP1, VP2, VP3 e VP4, seguidas de sequenciamento e análise filogenética.
A análise revelou alta similaridade genética entre os isolados dos dois anos, com variações de apenas 0,2% a 2,6% em níveis de nucleotídeos e aminoácidos (Tabela 1). A média de divergência entre os isolados de 2019 e os de 2024 foi de 1,72%, correspondendo a uma similaridade média de 98,27%. Essas observações sugerem uma circulação viral sustentada de linhagens endêmicas no território brasileiro, com baixa introdução de novas variantes.
Tabela 1 – Percentual de divergência genética entre os isolados de Senecavírus A obtidos em 2019 e 2024 no Brasil.Os valores representam a porcentagem de variação entre as sequências analisadas a nível de nucleotídeos e aminoácidos.
Identificação das amostras | Percentual de divergência | ||||
ID4899 | ID4900 | ID4901 | ID4902 | ID4903 | |
ID4899/2019 |
| 1,3% | 2,6% | 2,5% | 0,5% |
ID4900/2024 |
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| 1,6% | 1,5% | 0,8% |
ID4901/2024 |
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| 0,2% | 2,1% |
ID4902/2024 |
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| 2,0% |
ID4903/2024 |
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A árvore filogenética construída evidencia a proximidade entre os isolados, com alguns agrupamentos sugestivos de transmissão local ou surtos relacionados (Figura 1). A menor divergência foi encontrada entre amostras de 2024 (0,2%), reforçando a hipótese de circulação intragranja ou regional. Já as maiores diferenças ocorreram entre amostras de anos distintos, ainda assim dentro de uma faixa considerada baixa para vírus de RNA.

Figura 1 – Árvore filogenética circular com base na sequência do genoma viral a nível de nucleotídeos e aminoácidos dos isolados do Senecavírus A analisados no Brasil. Em verde, estão os isolados analisados neste estudo.
Essa estabilidade genética do SVA tem implicações práticas relevantes: facilita o desenvolvimento de estratégias de diagnóstico e controle específicas, sem a necessidade imediata de atualizações frequentes em reagentes moleculares. No entanto, a persistência ambiental do vírus e a sua semelhança clínica com a febre aftosa exigem vigilância constante, protocolos rigorosos de biosseguridade e programas de limpeza e desinfecção eficientes nas granjas, além de protocolos rígidos de vacinação.
Atualmente, a SENECAV, vacina comercial contra o SVA desenvolvida pela INATA, é a primeira e única vacina disponível no mercado brasileiro para prevenção do Senecavírus A. Produzida com tecnologia nacional e respaldada por estudos de eficácia e segurança, a SENECAV representa uma ferramenta estratégica no controle de surtos e na redução da circulação viral em populações suínas.
Aliada às medidas de biosseguridade e vigilância, a vacinação com SENECAV contribui para minimizar os impactos clínicos da infecção, preservar o status sanitário das granjas e evitar prejuízos associados a notificações de doenças vesiculares. Diante do cenário de estabilidade genética do vírus, a utilização de uma vacina específica torna-se ainda mais eficaz, já que o antígeno vacinal permanece representativo das cepas atualmente circulantes no país.
A INATA reforça seu compromisso com a inovação e a sanidade animal, oferecendo soluções baseadas em ciência para os desafios da suinocultura moderna.
Autora:
Julia Montes
Gerente técnica unidade suínos Brasil
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