Biosseguridade: o primeiro passo para a estabilidade sanitária
- Karina Sonalio
- 22 de set.
- 3 min de leitura

A estabilidade sanitária começa com a biosseguridade — e, na suinocultura brasileira, isso não é um slogan, é uma estratégia de sustentabilidade técnica e econômica. Em um mercado onde o acesso a determinados segmentos depende de status sanitário certificado e de uma rastreabilidade confiável, cada falha nas barreiras de proteção implica risco de perda de produtividade, ruptura de fluxos, prejuízos financeiros e danos reputacionais duradouros. A biosseguridade é a base da saúde do rebanho: bloqueia a entrada de patógenos, reduz a transmissão dentro e entre unidades e acelera a recuperação quando incidentes ocorrem. Bem executada, protege desempenho, bem‑estar animal e continuidade de mercado, ao mesmo tempo em que resguarda toda a cadeia contra falhas evitáveis.
A lógica é direta: quebrar o maior número possível de elos da cadeia de infecção. Isso começa com um desenho baseado em risco que reconhece as principais vias de introdução — pessoas, veículos, animais vivos, ração e ingredientes, equipamentos e materiais, pragas e fauna silvestre, água e ar. Controles práticos incluem cercamento perimetral e uma única entrada controlada; instalações de entrada/saída com banho obrigatório; setorização “limpo–sujo” com linhas de separação rígidas; vestimentas e ferramentas codificadas por área; e ar filtrado com pressão positiva em áreas estratégicas. A gestão de visitantes é inegociável: pré‑autorização, comprovação de período de vazio sanitário sem contato com suínos (domésticos ou asselvajados), declarações de saúde e acesso supervisionado. A biosseguridade de veículos é igualmente crítica — docas de embarque dedicadas que preservem a linha de separação, protocolos validados de lavar–desinfetar–secar, arcos de desinfecção e planejamento de rotas que evitem contaminação cruzada entre granjas, frigoríficos e fábricas de ração.
No Brasil, a biosseguridade na suinocultura apoia-se em uma estrutura que combina diretrizes do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) com regulamentações e execução dos Serviços de Defesa Agropecuária dos estados. No nível federal, o país estrutura a vigilância, o controle e a erradicação de doenças suínas por meio de programas oficiais que estabelecem requisitos de notificação, planos de contingência e padrões de rastreabilidade, com destaque para as ações relativas à peste suína clássica (PSC), peste suína africana (PSA) e influenza suína. Os estados, por sua vez, operacionalizam a fiscalização, o controle de trânsito de animais, a gestão de cadastros e a verificação de conformidade em granjas, abatedouros e transportadores, assegurando que a política nacional se traduza em rotinas efetivas de campo.
No âmbito estadual, as secretarias e autarquias de defesa agropecuária são responsáveis por operacionalizar e, quando necessário, complementar essas diretrizes. É aqui que a biosseguridade se concretiza na rotina das granjas, do transporte e dos abatedouros, com portarias, resoluções e instruções normativas que tratam de cadastro de propriedades suinícolas, exigências para granjas de reprodutores e multiplicadores,quarentena de animais, limpeza e desinfecção de veículos e equipamentos, manejo de carcaças e efluentes, controle de feiras e eventos pecuários, além de protocolos de vigilância e de resposta a emergências. Em estados com forte concentração de suínos, como Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, os órgãos estaduais costumam detalhar requisitos de layout das granjas, como zoneamento de áreas sujas e limpas, vestiários com barreira física, tempos de vazio sanitário entre lotes e requisitos de qualificação de fornecedores de insumos críticos. Por exemplo, Santa Catarina, por meio da CIDASC, é frequentemente referência pela maturidade do sistema de defesa e pelo foco em barreiras sanitárias e rastreabilidade de trânsito animal e teve suas normas atualizadas recentemente, conforme publicação da portaria SAPE n° 50/2025, de 08/09/2025.
Do ponto de vista econômico, a biosseguridade é um seguro que se paga. Surtos impõem custos diretos (mortalidade, tratamentos, atrasos produtivos) e penalidades indiretas (perda de mercados, descontos de preço, desgaste de reputação), frequentemente superando em muito o gasto contínuo com protocolos, infraestrutura e treinamento. Quantificar o retorno sobre investimento (ROI) é direto quando as granjas acompanham o desempenho de base e vinculam melhorias à conformidade: menos eventos clínicos, maior ganho médio diário, uniformidade mais estreita, menor uso de antibióticos e menor tempo até o mercado. Em integrações, uma única falha pode se propagar pelo sistema, ampliando as perdas — mais um motivo para padronizar e auditar controles ao longo de toda a cadeia.
Em síntese, a estabilidade sanitária que sustenta a competitividade da suinocultura brasileira começa, de fato, com biosseguridade. Não é um apêndice do manejo: é o próprio alicerce do sistema, articulando infraestrutura, processos, pessoas, indicadores e conformidade legal. Ao integrar práticas robustas de barreiras com o cumprimento das exigências federais e estaduais, granjas e empresas reduzem riscos, protegem margens e fortalecem o acesso a mercados. O investimento em biosseguridade é, no fim, um seguro de produtividade e de reputação — um diferencial que, nas cadeias produtivas modernas, deixou de ser opcional e passou a ser requisito para permanecer competitivo.
Links úteis:
PORTARIA SC: www.cidasc.sc.gov.br
PORTARIA PR: www.legislacao.pr.gov.br PORTARIA RS: www.diariooficial.rs.gov.br
PNSS – MAPA: www.gov.br/agricultura/pt-br
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