Micotoxinas: Impactos Imunológicos e Estratégias de Controle em aves comerciais
- Lucas Batista

- 20 de ago.
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Micotoxinas são metabólitos secundários produzidos por fungos filamentosos dos gêneros Aspergillus, Penicillium e Fusarium, que frequentemente contaminam ingredientes e rações utilizadas na avicultura. Embora nem sempre detectáveis clinicamente, exposições crônicas a níveis subclínicos dessas toxinas representam uma importante ameaça à sanidade avícola, alterando a fisiologia intestinal, o desempenho zootécnico e comprometendo a resposta imune das aves (LEE et al., 2023). Estes danos podem resultar em falhas de respostas vacinais, maior suscetibilidade a infecções bacterianas, virais e parasitárias, sendo um ponto crítico importante a ser acompanhado de perto dentro da avicultura.
Quais são as Micotoxinas em aves mais relevantes e como elas podem me impactar?
Embora as micotoxinas podem ocorrer concomitantemente, o que pode causar efeitos sinérgicos que potencializam os danos à imunidade e à integridade intestinal, abaixo vamos discutir alguns dos seus efeitos isolados para as principais micotoxinas.

Aflatoxina B1 (AFB1)
Produzida principalmente por Aspergillus flavus e A. parasiticus, a AFB1 é uma das micotoxinas mais estudadas em avicultura. Seu mecanismo de ação envolve inibição da síntese proteica, estresse oxidativo e indução de apoptose em linfócitos T e B. Esses efeitos causam atrofia dos órgãos linfoides primários (bolsa de Fabricius, timo e baço), redução da produção de imunoglobulinas e queda na atividade fagocítica de macrófagos. Estudos demonstram queda significativa nos títulos de anticorpos pós-vacinais em aves expostas à AFB1, além de prejuízos no ganho de peso, conversão alimentar e lesões hepáticas e intestinais (OLARIU et al., 2025).
Ocratoxina A (OTA)
A OTA, produzida por Aspergillus ochraceus e Penicillium verrucosum, é nefrotóxica e imunotóxica. Resultados experimentais evidenciam redução no peso relativo dos órgãos linfoides (Figura 1), linfopenia e diminuição significativa nas concentrações de IgY e IgA séricas. Também foram observados altos índices de apoptose linfocitária (KHAN et al., 2019).

Tricotecenos (T-2 toxina e deoxinivalenol)
Os tricotecenos são metabólitos de Fusarium, principalmente T-2 e o DON, apresentam alta citotoxicidade. A T-2 promove estresse oxidativo, lesões orais e intestinais, apoptose e autofagia hepática (YIN et al., 2020). O deoxinivalenol (DON) em doses elevadas, pode acarretar efeitos negativos no crescimento, consumo de ração, alterações intestinais, problemas neurológicos e reprodutivos, além de imunossupressão severa, reduzindo a proliferação de células T e B, a expressão de citocinas pró‑inflamatórias e os títulos de anticorpos após vacinação contra as doenças de Bronquite Infecciosa e Newcastle (AWAD et al., 2013).


Fumonisinas (FB₁)
As fumonisinas, especialmente a fumonisina B₁ (FB₁), são produzidas por Fusarium verticillioides e estão presentes em milho contaminado e subprodutos. Estudos in vitro mostraram que FB₁ induz alterações no fígado e intestino, levando a redução do ganho de peso, assim como imunossupressão reduzindo a proliferação de linfócitos em frangos (Figura 3), além de queda na produção de interleucinas (WANG et al., 2022) , que são importantes mediadores da resposta imune do organismo.
Zearalenona (ZEA)

A zearalenona, produzida por Fusarium graminearum, que apesar da baixa afinidade pelos receptores estrogênicos de aves, a ZEA e seus metabólitos podem induzir imunossupressão, hepatotoxicidade, nefrotoxidade e interação sinérgica com outras micotoxinas, impactando frangos de corte e galinhas de postura principalmente quanto a performance produtiva e imune (Wu et al., em 2020).
As contaminações de ingredientes utilizados na alimentação animal por micotoxinas, constituem um desafio constante para a avicultura industrial, tendo os seus efeitos deletérios mais visíveis quando em níveis elevados, porém em doses subclínicas podem não afetar tão significativamente o desempenho das aves, porém deterioram a imunidade e a fisiologia intestinal ao longo do ciclo de produtivo, sendo imprescindível a implantação de um sistema de controle e monitoramento que contemple os seguintes pontos:

Seleção de matérias-primas: priorizar fornecedores com histórico de baixa contaminação e exigir laudos analíticos para entrada destes ingredientes na fábrica de ração.
Armazenamento adequado: manter os grãos secos (<13% umidade), ventilados e protegidos contra fungos, além da realização de um bom controle de estoque, limpeza e desinfecção de silos de armazenamento.
Uso de adsorventes: incorporar produtos sequestrantes (como argilas bentoníticas, zeólitas ou leveduras modificadas) que reduzem a biodisponibilidade das toxinas no trato digestivo, reduzindo os efeitos deletérios das micotoxinas no organismo da ave. Monitoramento adequado: Escolher um método confiável de monitoria nas fábricas de ração é de fundamental importância, pois as micotoxinas podem estar presentes em níveis muito baixos, muitas das vezes em partes por bilhão, o que dependendo do método de amostragem, podemos gerar resultados “falso negativos” , sem uma detecção eficaz das micotoxinas. Um método amplamente empregado e muito eficiente, consiste em realizar um pequeno furo na rosca de alimentação de matérias primas, que irão propiciar uma amostragem contínua dos ingredientes que adentram à fábrica de ração, aumentando a confiabilidade das amostras obtidas para análise. Tendo o cuidado com a amostragem, posteriormente podem ser aplicados testes rápidos (como ELISA ou fitas cromatográficas) para triagem e confirmação dos resultados por métodos clássicos de alta precisão como a cromatografia líquida (HPLC).
Torna-se evidente que a presença de micotoxinas em níveis subclínicos nas rações representam um desafio silencioso, mas com expressiva repercussão negativa sobre a sanidade, desempenho produtivo e a resposta imunológica das aves, sendo necessário a implementação de um programa integrado de vigilância, possibilitando uma melhor saúde e consequente desempenho produtivo das aves.

Referências Bibliográficas
KHAN, S. A. et al. Effects of subcutaneous ochratoxin-A exposure on immune system of broiler chicks. Toxins, v. 11, n. 5, p. 264, 2019.
OLARIU, R. M. et al. Mycotoxins in broiler production: Impacts on growth, immunity, vaccine efficacy, and food safety. Toxins, v. 17, n. 6, p. 261, 2025.
SHANMUGASUNDARAM, R. et al. Exposure to subclinical doses of fumonisins, deoxynivalenol, and zearalenone affects immune response, amino acid digestibility, and intestinal morphology in broiler chickens. Toxins, v. 17, n. 1, p. 16, 2025.
ZHAI, S. et al. Ochratoxin A: its impact on poultry gut health and microbiota, an overview. Poultry Science, v. 100, p. 101037, 2021.
AWAD, W. et al. The toxicological impacts of the Fusarium mycotoxin, deoxynivalenol, in poultry flocks with special reference to immunotoxicity. Toxins, v. 5, p. 912–925, 2013.
ZHU, F.; WANG, Y. Fumonisin B1 induces immunotoxicity and apoptosis of chicken splenic lymphocytes. Frontiers in Veterinary Science, v. 9, p. 898121, 2022.
YIN, H. et al. T-2 toxin induces oxidative stress, apoptosis and cytoprotective autophagy in chicken hepatocytes. Toxins, v. 12, n. 2, p. 90, 2020.
WU, K. et al. The insensitive mechanism of poultry to zearalenone: A review. Animal Nutrition, v. 7, p. 587–594, 2021.



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