Introdução
As doenças respiratórias em bovinos são comumente referidas como pneumonias, mas atualmente emprega-se também o termo complexo de doenças respiratórias bovinas (CDRB) devido à complexidade desses quadros, que usualmente envolvem vários aspectos que se interrelacionam. Entre os fatores envolvidos no desencadeamento de doenças respiratórias em bovinos destacam-se a ambiência, o status imunológico dos animais, além da diversidade de microrganismos que atuam isoladamente ou em diferentes associações. Algumas características anatômicas do sistema respiratório dos bovinos também favorecem a ocorrência de pneumonias, como por exemplo a marcada compartimentalização e lobulação pulmonar, vias aéreas estreitas e caixa torácica rígida. Essas características fazem com que as trocas gasosas sejam menos efetivas e a limpeza pulmonar mais lenta, o que facilita a entrada de microrganismos patogênicos e dificulta sua saída. Entretanto, em animais saudáveis, a colonização do trato respiratório é impedida por meio da produção de muco e pela presença dos cílios que fazem uma remoção física de qualquer partícula estranha ou de um microrganismo invasor do sistema respiratório (BATISTA e MAIA, 2021).
A problemática ainda envolve a dificuldade no estabelecimento de diagnóstico específico e medidas de controle. Além disso, os animais estão sendo cada vez mais expostos a uma grande variedade de patógenos devido à intensificação dos sistemas de produção de leite. Atualmente o CDRB apresenta alta prevalência, especialmente nos rebanhos leiteiros, nos quais, juntamente com a diarreia, causam as maiores taxas de mortalidade de bezerras e são considerados os maiores desafios sanitários da fase de cria. Bezerras diagnosticas com CDRB antes dos 90 dias de idade apresentam duas ou mais chances de morrer antes do parto ou ainda atrasar a idade ao primeiro parto, quando comparado às bezerras saudáveis (GORDEN e PLUMMER, 2010), além de apresentarem redução no ganho de peso diário e diminuição da produtividade na primeira lactação (STANTON et al., 2012).
Há vários agentes infecciosos que podem causar pneumonia em bovinos, especialmente bactérias e vírus. Dentre as bactérias, as principais são Mycoplasma bovis, Mannheimia haemolytica, Pasteurella multocida e Histophilus somni. O Mycoplasma bovis é um patógeno primário relevante para a ocorrência do CDRB, especialmente em bezerros, nos quais também pode causar otite e artrite. Essa infecção tem sido diagnosticada com maior frequência em fazendas no Brasil nos últimos anos. Esse agente é complexo e caracteriza-se por persistir em rebanhos e indivíduos infectados, mesmo após o tratamento, o que dificulta seu controle e erradicação. Há também bactérias de menor importância clínica que colonizam as vias aéreas superiores como comensais da microbiota, a exemplo de Bacillus sp., Streptomyces sp., Micrococcus sp. e Pseudomonas sp., e que podem estar associadas a alguns quadros de pneumonia, se precedidas por outras infecções ou fatores predisponentes. Ainda, a manifestação clínica de pneumonia e sinais respiratórios é comum em casos de septicemia por Salmonella Dublin em bovinos, em combinação com outros achados, como hepatite e enterocolite.
Os principais agentes virais associados ao CDRB são o vírus sincicial respiratório bovino (BRSV), parainfluenza bovina (PI-3), herpes vírus bovino tipo-1 (BoHV-1), vírus da diarreia viral bovina (BVDV) e o coronavírus bovino (BCoV). Além dos vírus e bactérias, há também casos de pneumonia parasitária (Dictyocaulus viviparus), além de causas primárias não infecciosas, como a aspiração de mecônio, leite ou conteúdo ruminal refluído. Fatores ambientais como variações bruscas de temperatura e ventilação inadequadas nas instalações também podem predispor ao desenvolvimento de doenças respiratórias em bezerros.
Diagnóstico
Os animais acometidos pelo CDRB apresentam sinais clínicos variados, que podem ou não ser específicos, sendo os principais observados: dispneia, aumento da frequência respiratória, tosse, descarga nasal e ocular, variado grau de depressão, inapetência, anorexia, febre e ruídos pulmonares na auscultação que variam conforme a gravidade do quadro clínico no momento da avaliação.
A anamnese e observação do animal são extremamente importantes para realização do diagnóstico precoce. O uso do escore de saúde respiratória dos bezerros para definir a presença ou ausência da doença é o sistema mais utilizado mundialmente. Esse sistema de pontuação leva em consideração cinco categorias avaliadas: temperatura, tosse, narinas (presença ou ausência de secreção nasal), olhos (presença ou ausência de secreção ocular) e posicionamento das orelhas. A cada categoria é atribuída pontuação de 0 a 3, correspondente ao nível subjetivo de anormalidade (0 = normal, 1 = leve, 2 = moderado e 3 = grave). Somados os escores, bezerros com resultados ≥ 5 são considerados doentes. Quando a posição da orelha e a secreção ocular forem anormais, prevalece o maior escore (McGUIRK, 2008) (Figura 1).

Além da avaliação clínica, o diagnóstico do CDRB pode ser aprofundado por meio de exames complementares. Podem ser usados o hemograma, citologia, exames de imagem (ultrassonografia pulmonar e radiografia torácica), sorologia e pesquisa de agentes infecciosos por técnicas laboratoriais, como cultura bacteriana, PCR e isolamento viral.
Para a pesquisa de agentes infecciosos podem ser usados swabs nasais ou, se possível, amostras coletadas de porções mais profundas do trato respiratório, como lavados traqueobrônquicos e bronco-alveolares. Ainda, a necropsia de animais doentes é uma oportunidade para se fazer uma avaliação mais detalhada do trato respiratório, além de permitir a coleta de amostras para exames complementares. Durante a necropsia, é importante que seja coletado um fragmento de pulmão para pesquisa dos agentes infecciosos suspeitos, o qual deve ser enviado ao laboratório refrigerado. Ainda, é importante que seja coletado pulmão para exame histopatológico (um fragmento por padrão de lesão), juntamente com outros órgãos que complementam o diagnóstico, como fígado, baço, rim, coração e traqueia.
Tratamento, controle e prevenção
O sucesso do tratamento do CDBR é determinado pela precocidade com que é feito o diagnóstico. A cronificação do processo inflamatório dificulta a difusão dos antimicrobianos devido ao excesso de exsudatos e proliferação de tecido fibrovascular, que culmina na formação de fibrose, aderência e abcessos pulmonares e/ou em tecidos adjacentes, comprometendo grave e permanentemente o desempenho futuro dos animais acometidos (GRIFFIN et al., 2010).
O tratamento das doenças respiratórias inclui o uso de antimicrobianos, anti-inflamatórios, fluidoterapia e medidas de suporte, como a administração de mucolíticos e broncodilatadores para auxiliar na eliminação de secreções respiratórias, além do uso de suplementos nutricionais, que buscam melhorar o estado de saúde geral dos animais doentes.
O controle e a prevenção do CDRB em bezerros leiteiros envolvem uma abordagem multifacetada. A adoção de práticas de manejo adequadas pode minimizar o impacto das doenças respiratórias, tais como garantir o acesso a água limpa e alimentação balanceada, estratégias de desmame e de descorna menos dolorosas, manter as instalações limpas e arejadas, bem como minimizar manejos que sejam estressantes para os animais.
Além disso, a vacinação contra os agentes infecciosos mais comuns pode contribuir muito com a estratégia de controle. As vacinas personalizadas são uma opção interessante, pois são configuradas com base em um trabalho prévio de diagnóstico e isolamento dos agentes específicos que estão causando problema em uma determinada propriedade. A Inata Biológicos possui técnicos capacitados para realizar a coleta da melhor forma para diagnostico e isolamento dos agentes associados ao CDRB, além de fabricar vacinas autógenas específicas para a necessidade de cada propriedade e fase da criação. Entre em contato conosco para mais informações!
Referências bibliográficas
BATISTA, C.F.; MAIA, R.B.M. Principais afecções respiratórias de bovinos leiteiros. Revista Brasileira de Buiatria, v.1, n.8, p.206-232, 2021.
GORDEN, P. J.; PLUMMER, P. Control, Management, and Prevention of Bovine Respiratory Disease in Dairy Calves and Cows. Veterinary Clinics of North America: Food Animal Practice, v.26, n.2, p.243-259, 2010.
GRIFFIN, D. et al. Bacterial pathogens of the bovine respiratory disease complex. Veterinary Clinics of North America: Food Animal Practice, v.26, n.2, p.381-394, 2010.
MCGUIRK, S. M. Disease management of dairy calves and heifers. Veterinary Clinics of North America: Food Animal Practice, v.24, n.1, p.139-153, 2008.
STANTON, A. L. et al. The effect of respiratory disease and a preventive antibiotic treatment on growth, survival, age at first calving, and milk production of dairy heifers. Journal of Dairy Science, v.95, n.9, p. 4950-4960, 2012.
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